Alexandre de Moraes é relator na Corte de inquéritos que investigam a disseminação de notícias falsas em redes sociais - Rosinei Coutinho/SCO/STF

             O inquérito 4781, conhecido como "inquérito do fim do mundo", tem gerado intenso debate no Brasil sobre os limites da atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e, em especial, do ministro Alexandre de Moraes, que conduz as investigações. Instituído em 2019 pelo então presidente do STF, ministro Dias Toffoli, o inquérito foi criado com o objetivo de apurar ataques e fake news contra a Corte. Entretanto, as ações tomadas no âmbito desse inquérito levantam preocupações quanto ao respeito aos princípios fundamentais do ordenamento jurídico brasileiro.

   Os Riscos das Arbitrariedades no Inquérito 

  1.  Concentração de Poder 

        No inquérito 4781, o ministro Alexandre de Moraes atua simultaneamente como investigador, acusador e julgador. Essa acumulação de funções viola o princípio da separação de poderes e a garantia do juiz natural, previstos na Constituição Federal. Ao concentrar múltiplas funções em uma só autoridade, abre-se espaço para o desrespeito às garantias processuais básicas.

  2.  Ausência de Limites Claros 

        O inquérito não possui delimitações específicas quanto aos fatos investigados, o que permite uma interpretação ampla e subjetiva sobre o que constitui uma "ameaça" ao STF ou à democracia. Essa ausência de delimitação pode resultar em investigações arbitrárias, ampliando o risco de perseguições políticas e censura a vozes dissidentes.

  3.  Atos de Censura 

        A censura prévia a veículos de comunicação, jornalistas e influenciadores digitais foi um dos aspectos mais polêmicos do inquérito. Essa prática, além de violar o direito à liberdade de expressão, garantido pela Constituição, pode ter um efeito inibidor sobre o debate público e a crítica legítima às instituições.

  4.  Prisão Preventiva e Medidas Desproporcionais 

        Diversos investigados no âmbito do inquérito sofreram prisões preventivas e buscas e apreensões com base em fundamentações questionáveis. Essas ações geram preocupação sobre a proporcionalidade das medidas e o respeito ao devido processo legal.

  5.  Precedente Perigoso 

        A condução do inquérito cria um precedente perigoso, ao permitir que o Supremo Tribunal Federal, tradicionalmente um órgão de controle, atue de maneira proativa como investigador. Isso pode ser replicado em outras esferas, comprometendo o equilíbrio entre os Poderes e os direitos fundamentais.

   Impacto na Sociedade e na Democracia Brasileira

        As arbitrariedades observadas no inquérito minam a confiança nas instituições e alimentam narrativas de polarização. Embora o combate à desinformação e às ameaças institucionais seja essencial, ele deve ser conduzido dentro dos limites do Estado Democrático de Direito. 

        A percepção de que uma autoridade está acima das leis pode enfraquecer a democracia, abrindo espaço para abusos e desrespeito a direitos básicos, como a liberdade de expressão, o direito à defesa e a presunção de inocência.

       Caminhos para o Futuro 

        Para mitigar os riscos associados a arbitrariedades no âmbito do inquérito 4781, algumas ações podem ser sugeridas:

1.  Delimitação Clara do Objeto da Investigação:  A definição de um escopo específico é essencial para evitar excessos.

2.  Fiscalização por Órgãos Independentes:  É necessário que as ações do STF sejam monitoradas por outras instâncias para garantir que respeitem os princípios constitucionais.

3.  Revisão do Procedimento pelo Congresso:  O Poder Legislativo deve discutir mecanismos para evitar que inquéritos semelhantes sejam conduzidos sem o devido equilíbrio entre os poderes.

        Embora o inquérito 4781 tenha um objetivo legítimo — a proteção das instituições democráticas —, os métodos utilizados levantam sérias questões sobre o respeito às garantias constitucionais. O combate à desinformação e às ameaças institucionais não pode ser conduzido de maneira a violar os direitos fundamentais dos cidadãos. Somente por meio da observância estrita às leis e ao Estado de Direito é possível fortalecer a democracia brasileira e preservar a confiança da população nas instituições.