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Por que a inflação não para de subir no Brasil, mesmo com aumentos sucessivos da taxa Selic?

 

        O aumento da taxa de juros é uma ferramenta tradicionalmente utilizada pelos bancos centrais para controlar a inflação, pois encarece o crédito, desestimula o consumo e reduz a demanda. No entanto, no Brasil, apesar da alta nos juros, a inflação segue um ritmo persistente de alta. Isso ocorre por uma combinação de fatores estruturais e conjunturais que vão além da simples relação entre juros e inflação. Abaixo estão algumas das principais razões para isso:

          1.  Pressões de Custos e Choques de Oferta 
   A inflação brasileira tem sido muito influenciada por choques de oferta e pressões de custos, especialmente em setores como combustíveis, alimentos e energia. Esses aumentos de preços estão associados a fatores externos (como o preço do petróleo no mercado global) e a questões climáticas internas (como a seca, que impacta a produção agrícola e a geração de energia). A taxa de juros tem pouco impacto em situações como essas, pois não controla esses fatores de oferta e custo que pressionam os preços de forma independente da demanda.

          2.  Inércia Inflacionária 
   O Brasil possui uma tradição inflacionária forte, e, por isso, o processo de indexação – o hábito de ajustar preços com base em variações anteriores da inflação – é bastante comum. Salários, aluguéis e contratos são reajustados anualmente com base nos índices inflacionários, o que cria uma “inércia inflacionária”. Mesmo que o consumo diminua, essa indexação mantém uma pressão constante sobre a inflação, dificultando que uma alta nos juros tenha efeito rápido e efetivo.

  3.  Expectativas Inflacionárias Elevadas 
   As expectativas dos agentes econômicos (empresas, investidores e consumidores) sobre a inflação futura afetam diretamente a formação de preços no presente. No Brasil, as expectativas de inflação têm se mantido elevadas, o que leva as empresas a precificar seus produtos de acordo com essas expectativas. Esse comportamento cria um “círculo vicioso” em que as expectativas de inflação contribuem para que a inflação efetiva continue alta. As sucessivas altas de juros nem sempre são suficientes para corrigir essas expectativas, principalmente quando há incertezas fiscais e políticas.

  4.  Gastos Elevados do Governo e Incertezas Econômicas 
   A situação fiscal do Brasil é um dos fatores que mais preocupam investidores e analistas, gerando volatilidade e desconfiança na política monetária. Quando o governo apresenta dificuldade em controlar os gastos, como no caso de aumentos de despesas públicas, isso gera um temor de que a dívida pública possa aumentar ainda mais. Essa incerteza fiscal contribui para uma pressão inflacionária, pois o mercado pode precificar um risco inflacionário adicional, e a desvalorização do real acaba tornando produtos importados mais caros, alimentando ainda mais a inflação. Em meio a gastos elevados, a Previdência Social fechou setembro com um Rombo de R$ 26 bilhões de reais, com alta de 10% em relação ao mês anterior e só neste ano, já soma um rombo de R$ 105 bilhões de reais. Apesar de más notícias em relação a prejuízos a várias estatais e aumentos de impostos à sociedade, o governo Lula (PT) deverá encaminhar “em breve” ao Congresso Nacional um projeto de lei que prevê reajuste de até 30% a servidores com cargos em comissão e funções gratificadas. 

  5.  Desvalorização do Real 
   A moeda brasileira vem se desvalorizando em relação ao dólar, o que tem impacto direto sobre a inflação. A alta do dólar encarece produtos importados e matérias-primas, pressionando a inflação interna. Essa depreciação cambial, que se deve em parte à fuga de capitais para economias mais estáveis, não é diretamente controlada pela política de juros e acaba gerando pressões inflacionárias sobre produtos essenciais.

  6.  Alta de Preços no Mercado Global 
   Além das questões internas, o Brasil também sofre com o aumento de preços no mercado global, principalmente em commodities e energia. Esse aumento se reflete nos custos de insumos e produtos consumidos internamente, pressionando a inflação. Com a economia global em recuperação após a pandemia de COVID-19 e o conflito entre Rússia e Ucrânia, os preços de commodities como petróleo, gás e alimentos dispararam, o que tem um impacto direto sobre os preços no Brasil.

  7.  Limitações da Política Monetária 
   No atual cenário, a política monetária – ou seja, o aumento de juros – enfrenta limitações em sua eficácia para conter a inflação. As causas inflacionárias no Brasil têm raízes profundas e, em muitos casos, estão fora do alcance do Banco Central, como o preço dos alimentos e combustíveis, ou estão ligadas a questões fiscais que a política monetária não consegue controlar. O resultado é que, mesmo com juros altos, a inflação continua, enquanto o custo do crédito se eleva, penalizando o crescimento econômico e o consumo das famílias.

    Por fim, o aumento na taxa de juros no Brasil não tem sido suficiente para frear a inflação, pois as pressões inflacionárias atuais vêm de fatores complexos, como choques de oferta, questões fiscais e gastos exagerados do governo, desvalorização cambial e uma inércia inflacionária histórica. Resolver o problema da inflação requer uma abordagem mais ampla, incluindo estabilidade fiscal, cortes de gastos, políticas que reduzam a indexação automática de preços e medidas que aumentem a competitividade da economia brasileira. Somente com um conjunto de ações coordenadas, incluindo reformas estruturais, será possível controlar a inflação de forma mais eficiente e reduzir a dependência exclusiva da política de juros.


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